Quem deu certo? Palmeiras dribla “vício de contratações” no Brasil e espera maior reforço da era Barros

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Números, comparações e análises desenham raio-x do discreto Anderson Barros, em sua quinta temporada como diretor de futebol; Felipe Anderson chegará como contratação mais badalada

 

 

Era março de 2024 quando Anderson Barros enviou um representante do Palmeiras à Itália para conversar sobre Felipe Anderson pela primeira vez.

Discreto, como de costume, passou despercebido nos bastidores e surpreendeu o mercado ao desbancar os italianos Juventus e Lazio na negociação. Começava assim, portanto, o movimento do dirigente pela maior contratação do Palmeiras dos últimos anos. A 25ª de Anderson e a mais ousada de toda a era Barros.

Mas qual o saldo da atuação do dirigente? O que deu certo ou errado? Traçamos números, comparações, e análises de três comentaristas para desenhar o resultado dos reforços trazidos por Anderson Barros.

“Futebol brasileiro é viciado em contratações”

 

Em sua quinta temporada como diretor de futebol do Palmeiras, Barros ouve críticas de parte da torcida por causa da montagem de um elenco enxuto, com contratações modestas – no caso de atletas em condição de “aposta”, por exemplo – e pela falta de alguns reforços solicitados por Abel Ferreira.

Há falhas no trabalho mencionadas pelos comentaristas, mas também o destaque para: boas negociações financeiras, a manutenção da base do time e a recusa por seguir “tendências nocivas do futebol brasileiro”.

É como descreve o comentarista Alexandre Lozetti, em referência ao exagero no número de contratações dos clubes.

– É o que chamo de “reforcismo”. O entorno do futebol brasileiro é viciado em contratações. Público, mídia, e aqueles que podem se beneficiar diretamente dessa roda girando, como cartolas e agentes.

Em geral, contratações em excesso são mais prejudiciais do que benéficas, e o Palmeiras, ainda que tenha permitido lacunas importantes no elenco, prefere correr esse risco do que jogar para a galera.
— afirma Alexandre Lozetti.
Reforços para 2024, Bruno Rodrigues e Aníbal Moreno durante a reapresentação do Palmeiras — Foto: Cesar Greco

Reforços para 2024, Bruno Rodrigues e Aníbal Moreno durante a reapresentação do Palmeiras — Foto: Cesar Greco

 

As lacunas no elenco, aliás, estão entre os pontos citados como negativos no trabalho de Barros.

Especialmente pela falta de contratações em 2023 – foram duas, com Richard Ríos e Artur – e a incapacidade de encontrar peças à altura das substituições de Danilo e Endrick, negociados ao Nottingham Forest em janeiro do ano passado e ao Real Madrid – para onde o camisa 9 irá em julho.

É o que avaliam Ana Thaís Matos e Cabral Neto.

– Se esperava mais criatividade nas reposições de Danilo e também na chegada de um 9. Entretanto, Barros por trabalhar numa nova realidade do clube, onde a patrocinadora também é a presidente, ele teve poderes mais limitados nas contratações – avalia Ana Thaís.

– O clube investiu pouco em 2023, perdeu jogadores importantes e não conseguiu repor. É algo que foi resolvido muito mais pela altíssima competência de Abel do que pelo trabalho da diretoria, mas a estrutura bem montada também foi capaz de dar o suporte necessário para o treinador – diz Cabral Neto.

Silêncio nos bastidores e nada de WhatsApp

 

No Palmeiras, Barros trabalha sob o respaldo da reafirmada confiança da presidente Leila Pereira.

É visto como um profissional ético, redutor de gastos e marcado pela postura discreta, tanto que não usa WhatsApp. São raros os momentos em que dá entrevistas, por exemplo. Prefere a movimentação silenciosa, e o sigilo foi algo valorizado por Felipe Anderson durante a negociação.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, e Anderson Barros, diretor de futebol — Foto: Cesar Greco/Palmeiras

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, e Anderson Barros, diretor de futebol — Foto: Cesar Greco/Palmeiras

Barros enviou o gerente jurídico e de negócios do clube, Leonardo Holanda, duas vezes a Roma – com o primeiro encontro na ida ao evento do Transfer Room -, desbancou propostas de Juventus e Lazio e surpreendeu até mesmo parte da imprensa italiana, que dava como certa a ida do atacante à Velha Senhora.

– Ele perdeu dinheiro. Oferecemos cinco anos e um salário significativo, o segundo ou terceiro mais alto do elenco – disse o diretor da Lazio, Angelo Fabiani.

A 25ª contratação de Anderson Barros, aliás, chega na contramão do perfil inicialmente buscado pelo clube. Felipe Anderson tem 31 anos, enquanto o Palmeiras vinha priorizando atletas com média de 25, para equilibrar o elenco que tem nomes experientes e outros muito jovens, como Endrick e Estêvão.

Felipe Anderson com Leonardo Holanda, gerente jurídico e de negócios do Palmeiras — Foto: Reprodução

Felipe Anderson com Leonardo Holanda, gerente jurídico e de negócios do Palmeiras — Foto: Reprodução

Quem deu certo? Quem deu errado?

 

Ao longo de cinco temporadas, Barros formalizou o maior número de contratações em 2022, com oito reforços, e 2024 aparece em segundo neste ranking, com seis nomes confirmados até aqui. A janela está fechada, e a próxima será de 10 de julho a 2 de setembro.

Números de contratações por temporada

 

  • 2020: cinco
  • 2021: quatro
  • 2022: oito
  • 2023: dois
  • 2024: seis

 

Dos 25 contratados, 12 ainda seguem no clube, considerando o atacante Felipe Anderson, que assinou um pré-contrato e se apresentará em julho, na abertura da janela de transferências.

O atacante Rony – contratado com Breno Lopes e mais três que deixaram o clube – lidera as estatísticas de atleta mais utilizado, com mais gols marcados e mais assistências entre os reforços da Era Barros. É apontado pelos comentaristas entre os nomes que deram certo, ao lado de Murilo e Piquerez, mas por seu histórico, uma vez que 2024 está longe de ser seu melhor momento no Verdão.

O menos utilizado, por sua vez, terminou sendo o atacante Merentiel, listado entre os nomes que deram errado no time e com 11 jogos disputados entre 2022 e o início de 2023, quando foi negociado ao Boca Juniors.

Emprestado pelo Palmeiras, Merentiel assina contrato com o Boca Juniors — Foto: Divulgação

Emprestado pelo Palmeiras, Merentiel assina contrato com o Boca Juniors — Foto: Divulgação

 

  • Mais utilizado da Era Barros: Rony.
  • Menos utilizado da Era Barros: Merentiel, considerando reforços até 2023.
  • Mais gols: Rony.
  • Mais assistências: Rony.

 

Foram consideradas as contratações até 2023, porque os reforços de 2024 só tiveram quatro meses de jogos até aqui. Ainda assim, só o recém-chegado Rômulo e o lesionado Bruno Rodrigues fizeram menos jogos que ele, enquanto os demais – Aníbal, Caio Paulista e Lázaro – já o ultrapassaram.

– Esse ano, o Palmeiras retomou as contratações e foi bem ao mercado. Jogadores como Moreno e Rômulo mostram um clube atento ao mercado e reforçando sua qualidade com talento e potencial – conclui Cabral Neto.

Jogadores mais utilizados por temporada

 

  • Mais utilizado em 2020: Rony.
  • Mais utilizado em 2021: Piquerez.
  • Mais utilizado em 2022: Murilo.
  • Mais utilizado em 2023: Richard Ríos.
  • Mais utilizado em 2024: Aníbal Moreno e Rony, ambos com 25 jogos.

Por Camila Alves, ge — São Paulo

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